A dificuldade não é começar. É continuar. Começar e
continuar. Persistir até que comece a fazer sentido, aguentar até que comece a
surgir alguma forma da coisa caótica e desprovida de sentido que dá início a
tudo. Mas o cansaço surge demasiado rápido. Não me ensinaram a esticar até ao
limite as cordas do tecido, a fiar no vazio, sem perceber a partir da trama o
resultado a que se irá chegar um dia. E eu nunca aprendi, nem talvez tenha
querido a aprender, a fazer mais do que tentar. Admitir que este será talvez o
meu maior defeito é dizer pouco. Talvez até nada dizer, sobretudo porque quem
me conhece deverá saber quais os piores defeitos. A dificuldade é não continuar
e a cada tentativa falhar. E retirar consolo do falhanço, ou pior, de nem
tentar. Se nunca chegar ao fim do esforço, da tentativa, posso afirmar que
nunca verdadeiramente falhei. Não sei que psicose ou que fracasso se pode
chamar a isto. Mas a cada dor, a cada angústia, esta lâmina entra mais fundo.
Sangrar continuamente, e ter pena dessa dor a que não consigo fugir. Não
poderei ter perdão por ter fugido à tentativa. Um dia imagino poder quebrar o
ciclo. Quando será tarde?