quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Um coração

Um coração, pouco vale ou nada quase
Se ao bater cada compasso dado falhe,
Se não o tratares como uma certa frase
De poema, uma canção familiar, detalhe
No qual reconheças o que em tempos foste,
Seja o reverso do que agora és, regulável,
Amena figura perdida, alguém que goste
Daquilo que se espera, macio e descartável,
Seja o espelho que te procura, agudo e voraz,
Em todas as manhãs, lentas, duras, iguais,
Contra ti brilhando o rosto violento que te faz
O que és agora e sempre, um entre os demais.
     Preso à batida seguinte, nesse passo suspenso,
     Não és mais do que morto respirando, nó tenso.