quarta-feira, 9 de julho de 2014

Olhar

Há-de vir um tempo, novo ou não, em que olhar a Deus voltará a ser um acto de teimosia. Agora, procuram-no no intervalo, na interrogação, na dúvida. Não é pleno, nem certo, nem directo. O Deus castigador, pai eterno, tirano, foi substituído por benevolentes deuses ocidentais, inspirados por um zen new age que até o dogma católico abraça. "Deus é amor, é perdão", não está assim tão longe dos modos compassivos com que os deuses orientais (mais espíritos do que deuses, almas na natureza) olham para os humanos. Não precisam de ir ter com Deus, nem esperá-lo, porque na tentativa, na aceitação dos limites humanos, se encontra essa nova divindade, que dispensa orações, castigos, penitências. Chega-se a Deus pela reflexão, pela razão, e pela vida que tenta encontrar virtude no meio do caos. Não há Inferno já, apenas a ausência de Deus. Como se quem não acredita estivesse na verdade condenado a não viver. Não é esse o pior dos infernos?